Após uma sequência de três anos de queda no faturamento e no quadro de funcionários, as indústrias metalúrgicas, mecânicas e de material elétrico de Caxias do Sul deram uma respirada em 2017. No período de 2014 a 2016, o setor acumulou perdas de 53% na receita, que caiu para R$ 11,2 bilhões, ficando abaixo do valor faturado em 2000. No mesmo período foram fechados em torno de 17 mil postos de trabalho, recuo de 50 mil para 33 mil.
O alento, ainda que timidamente, voltou no ano passado, com a recuperação da receita em quase 9%, para R$ 12,2 bilhões. O número de empregos praticamente não se alterou. Houve tão somente o registro positivo de 61 novas vagas. Em janeiro deste ano, o setor empregava, em Caxias do Sul, 33.071 trabalhadores. Em relação a janeiro de 2012 são 20,3 mil vagas a menos.
De acordo com Reomar Slaviero, presidente do Sindicato das Indústrias Metalúrgicas, Mecânicas e de Material Elétrico (Simecs), a reação no ano passado deu-se no último trimestre, com destaque para novembro, mês de desempenho excepcional. Mesmo assim, o faturamento na ordem de R$ 12,2 bilhões ficou abaixo de 2000, de R$ 12,7 bilhões.
Para 2018, o presidente da entidade preferiu a cautela e não projetou indicadores, mas reconheceu que o ano começou com atividade aquecida. "Estamos otimistas, mas não eufóricos. Acreditamos na retomada e esperamos que seja como o voo de pássaros selvagens, alto e longo, e não como o de galinhas", comparou.
Slaviero destaca que os empresários têm emitido sinais de que pretendem voltar a investir e contratar funcionários, mas de forma cautelosa. "A crise de 2014 a 2016 deixou muitas feridas, ainda não plenamente curadas, no empresariado. As receitas de 2010 a 2013 foram fictícias, mas os empresários contrataram e investiram. O tombo foi grande e dolorido, o que levou várias organizações a buscar amparo na recuperação judicial. Creio que mais algumas ainda terão de fazer uso do expediente", assinalou.
O presidente do Simecs não acredita que, no curto prazo, a atividade venha a operar com receitas como as do período de 2010 a 2013, que na média foram de R$ 24 bilhões. Para ele, é mais provável que os números oscilem na casa de R$ 15 bilhões a R$ 18 bilhões, registrados nos anos anteriores à crise de 2009. O mesmo vale para os empregos. "Não vamos recuperar os postos perdidos desde 2011. Até porque as indústrias estão buscando alternativas para aumentar a competitividade, o que exige investimentos em automação. Os empregos fechados na indústria metalúrgica terão de ser abertas em outros segmentos", afirmou.
As indústrias ligadas à câmara metalmecânica foram as que mais influenciaram no resultado positivo do setor como um todo, com alta de 13,45% e respondendo por 21% do total em 2017. O índice de participação representa incremento de nove pontos na comparação com o de 2011, de 12%. Na avaliação de Rogério Gava, assessor de planejamento do Simecs, houve uma migração de empresas de outras câmaras, especialmente da automotiva, para a metalmecânica em função da crise que atingiu, de forma especial, o segmento de veículos pesados.
A câmara automotiva respondeu por 71% do faturamento do setor. Para Reomar Slaviero, presidente do Simecs, a situação não deve se alterar muito mais nos próximos anos até porque o setor automotivo pesado já iniciou o processo de reação. "Esta atividade continua sendo o motor da economia de Caxias do Sul", disse. Já a câmara setorial eletroeletrônica mantém participação de um dígito, na ordem de 8%, um ponto abaixo do consolidado em 2011.
Os outros estados da federação são o principal destino dos produtos da indústria metalúrgica de Caxias do Sul, respondendo por 64% do total. Em relação a 2011, houve recuo de seis pontos. No Rio Grande do Sul ficam 18,5% da produção, índice que era de 20%. As exportações foram as que mais avançaram no período: de 10% para 17,5%. Na comparação com 2016, no entanto, houve recuo de três pontos. "Com a gravidade da crise, várias empresas procuraram o mercado externo como saída, já que o doméstico estava muito retraído. Em 2017, com a retomada interna, houve mudança de estratégia", avaliou Slaviero.
Fonte: Jornal do Comércio (Porto Alegre)
Pesquisa e seleção de Marko Ajdaric