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Greve na Bardella

Geral, 19 de Dezembro de 2017 às 15:22h

Os cerca de 260 trabalhadores da Bardella**, uma das mais tradicionais indústrias de Sorocaba, entraram em greve por tempo indeterminado desde segunda-feira passada por atrasos nos salários e benefícios. Segundo o Sindicato dos Metalúrgicos de Sorocaba e Região (SMetal), a empresa também não recolhe os encargos sociais (FGTS, INSS, e outros). 
  
Em nota, o sindicato afirma que "a paciência e a confiança dos metalúrgicos na companhia esgotou-se." A fábrica de bens de capital (máquinas e equipamentos), que já foi uma das mais representativas do segmento no País, enfrenta desde o final do ano passado uma crise financeira. 
  
A reportagem do Cruzeiro do Sul consultou a indústria e encaminhou questionamentos via e-mail para a secretária da diretoria por dois dias seguidos. Falou, antes, com representante do departamento jurídico, que não quis se manifestar e pediu que as dúvidas fossem enviadas a outro setor, a própria diretoria no caso. Em contato na diretoria, a funcionária informou ter encaminhado as perguntas às pessoas competentes. Até ontem à noite, porém, não foi dado retorno. 
  
Segundo o SMetal, na média, os funcionários estão com três salários atrasados. O número de pagamentos em falta varia conforme o ganho do trabalhador. Quanto mais alto o salário, maior o atraso. Os funcionários também não receberam a primeira parcela do 13º deste ano, que deveria ter sido paga até 30 de novembro. O salário de novembro também não foi pago. 
  
Todos estão há sete meses sem receber o vale alimentação e o convênio médico foi suspenso. Há meses, ainda de acordo com o sindicato, a empresa não fornece uniformes e outros equipamentos de proteção individual (EPI) aos trabalhadores que, muitas vezes, executam tarefas pesadas ou de risco na fábrica. 
  
"Também nos últimos meses, vários trabalhadores saíram de férias, mas não tiveram seus direitos, previstos em lei, pagos. O mesmo aconteceu com diversos demitidos este ano, que não tiveram suas verbas rescisórias quitadas pela empresa", denunciou Tiago Almeida do Nascimento, secretário de administração do SMetal e funcionário da indústria. O FGTS de funcionários e de ex-funcionários também não seria depositado pela Bardella há quase dois anos. 
  
Sem perspectivas 
  
Muitos trabalhadores, sem expectativa de melhora na Bardella, informaram ao sindicato que gostariam de ser demitidos para procurar um novo emprego, mesmo com o mercado difícil. "Eles têm sido alertados pelo sindicato de que, na situação atual, caso sejam demitidos, talvez não recebam as verbas rescisórias. E não podemos garantir o quanto do patrimônio da empresa está comprometido, o que prejudicaria até o pagamento de dívidas futuras", diz Nascimento. Uma opção que o SMetal indica é entrar com uma ação de rescisão indireta de contrato de trabalho, que teria mais chances de garantir o pagamento das verbas trabalhistas no futuro. 
  
A queda na produção e os problemas financeiros começaram a despontar na Bardella em 2015 e se agravaram em 2016. Porém, até meados do ano passado não havia sinais concretos de que a situação iria afetar os funcionários. Eles começaram a se preocupar quando a empresa deixou de pagar a segunda parcela do 13º de 2016, que não teria sido quitada até hoje. 
  
Nos primeiros meses de 2017, começaram os atrasos de pagamentos, mas que acabavam sendo quitados no mesmo mês. Em alguns casos, o pagamento aconteceu após paralisações e negociações com o sindicato. 
  
Em agosto e setembro deste ano a empresa voltou a atrasar os salários e, desta vez, não deu previsão de pagamento. Ainda em setembro, a direção da Bardella fez um acordo informal com os funcionários, sem participação do sindicato. Pelo acordo, as dívidas salariais da empresa ficariam congeladas até janeiro de 2018. Caso os trabalhadores dessem esse "fôlego" aos patrões, eles se comprometiam a não atrasar mais os pagamentos a partir de outubro. 
  
Os atrasos de novembro, após uma promessa não cumprida, foram o estopim da greve iniciada esta semana. O SMetal entrou em contato com a empresa várias vezes esta semana e, na terça-feira, chegou a se reunir com a direção da fábrica. Mas os representantes da Bardella afirmam, segundo o sindicato, não ter nenhuma previsão de pagamento. Segundo informações do SMetal, a Bardella registrou prejuízo de R$ 64 milhões de janeiro a setembro deste ano. 
    
Empresa é pioneira no segmento pesado 
    
**A Bardella é sucessora da antiga BSI, fabricante de comportas e equipamentos para geração de energia elétrica, que instalou-se em Sorocaba na primeira fase da industrialização do município, entre o final dos anos 1960 e início dos 1970. Junto com a Fábrica de Aço Paulista (Faço), a Jaraguá e a Nossa Senhora Aparecida, a BSI estava entre as fábricas que revelaram o potencial de Sorocaba para o ramo metalúrgico, nacional e internacionalmente. 
 
Fonte: jornal Cruzeiro do Sul (Sorocaba)
Pesquisa e seleção de Marko Ajdaric

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