O Ciclo de Debates – Indústria e Desenvolvimento, realizado nesta sexta-feira (27), em Salvador, produziu ricas discussões. E uma posição foi unânime: o papel fundamental do Estado para o desenvolvimento da economia e, por consequência, da indústria. Com um projeto de entrega do patrimônio nacional, o governo Temer caminha na contramão da retomada.
“É preciso construir parcerias com o setor privado. Gerir e orientar o mercado. A ideia de que a economia deve ser gerida pela iniciativa privada é um grande engano. Basta ver o exemplo da China, que se desenvolveu guiada pelo Estado, investindo e garantido a estruturação do seu parque industrial”, diz Aurino Pedreira, presidente da FETIM (Federação dos Metalúrgicos da Bahia).
A China também foi citada pelo presidente da FITMETAL (Federação Interestadual dos Metalúrgicos do Brasil), Marcelino Rocha, como exemplo a ser seguido. “Pesquisadores indicam que países com mais de 25 milhões de habitantes que não tenham feito investimento na indústria não conseguem gerar emprego e distribuir renda. Por isso, a China tem um programa de governo para os próximos 20 anos que é revisto a cada 5 anos. Hoje ficou constatado que não temos política de governo no Brasil”, explica Rocha.
A economista Ana Georgina, supervisora do Dieese (Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos), fez uma análise do processo de desindustrialização que atinge o país, consequência da falta de uma política industrial. “Nunca tivemos uma política de verdade. Sempre aconteceram ações isoladas, com protagonismo de alguns setores, que conseguem algum tipo de política, mas muito umbilical. A verdade é que as empresas brasileiras estão sendo vendidas. Estão vendendo a Petrobras por fatias. A mesma coisa a gente vê agora com a Eletrobras”, alerta Georgina. A representante do Dieese ainda destaca que não podemos descartar o papel dessas estatais no desenvolvimento do país. “Tudo o que temos de base e importante no país foi feito com investimento público. Por isso, discutir a situação da indústria é extremamente necessário. O que está em jogo é o desenvolvimento da nação”, ressalta.
Também foi criticado o fato de o governo federal priorizar apenas o setor mais endinheirado do país. “Parece que só tem indústria no Sudeste. É um absurdo”, disse Jonas Paulo, coordenador executivo do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social do Estado da Bahia.
O Ciclo de Debates promovido pela FITMETAL E FETIM tem percorrido várias capitais, chegando em Salvador nesta sexta-feira. Ao final do ciclo, as entidades vão produzir uma coletânea das discussões, como forma de contribuir para esse debate nacional.
Além dos metalúrgicos, participaram do debate representantes do Sindpetro, Sindcarne, Construção Pesada, Sindicato dos Engenheiros, Secretaria do Trabalho Emprego e Renda do Estado, entre outros.