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A maior greve geral da históra dos povos

Geral, 26 de Setembro de 2016 às 16:40h

A greve geral de 2 de setembro de 2016, na Índia, foi a maior de sempre. Vários jornais apontaram que 180 milhões de trabalhadores indianos abandonaram o trabalho.

Os líderes dos sindicatos indianos são reticentes a dizer quantas pessoas fizeram greve a 2 de setembro de 2016. Simplesmente não podem dar um número exato. Mas asseguram que a greve - a 17ª greve geral desde que a Índia adotou a sua nova política económica em 1991 - foi a maior de sempre. Os grandes meios de comunicação – que não são partidários de greves - informaram que o número de grevistas superou os 150 milhões de trabalhadores. Vários jornais apontaram que 180 milhões de trabalhadores indianos abandonaram o trabalho. Se foi assim, trata-se da maior greve geral da história de que há notícia.

E, no entanto, quase não teve eco nos meios de comunicação. Poucos artigos de primeira página, ainda menos fotos de trabalhadores a manifestar-se seja nas suas fábricas e bancos, plantações de chá ou estações de autocarros sem atividade. A sensibilidade dos jornalistas só raramente consegue romper o muro de cinismo construído pelos proprietários da imprensa e a cultura que eles gostariam de criar. Para eles, as lutas dos trabalhadores são um inconveniente para a vida diária. É muito melhor para os grandes meios de comunicação dar a imagem das greves como uma perturbação, como um incómodo que atinge os cidadãos que parecem viver à margem dos trabalhadores. É o rancor da classe média que define a cobertura da greve, não as reivindicações dos trabalhadores na hora desta ação sincera e difícil. A greve é tratada como algo arcaico, como um vestígio de outra época. Não se vê como um meio necessário para que os trabalhadores expressem as suas frustrações e esperanças. As bandeiras vermelhas, as reivindicações e os discursos são descritos de forma vergonhosa. É como se, desviar o olhar, obrigasse a greve a desaparecer.

Pobreza

Uma das principais empresas de consultoria de negócios internacionais informou – há uns anos – que 680 milhões de indianos vivem na pobreza. Estas pessoas - metade da população da Índia - são privados dos fundamentos da vida, como alimentos, energia, habitação, água potável, saneamento, saúde, educação e segurança social. A maioria dos trabalhadores e camponeses indianos contam-se entre os pobres. Noventa por cento dos trabalhadores da Índia estão no setor informal, onde a proteção no local de trabalho é mínima e o direito a formar sindicatos praticamente inexistente.

Estes trabalhadores não são algo marginal ao programa de crescimento da Índia. Em 2002, a Comissão Nacional de Trabalho concluiu que "a principal fonte de trabalho futuro para todos os indianos seria o setor informal, que já produz mais de metade do Produto Interno Bruto. O futuro da mão de obra indiana é, então, o setor informal com poucos direitos reconhecidos ocasionalmente para evitar violações grotescas da dignidade humana. A melhoria das condições dos trabalhadores da Índia simplesmente não faz parte da agenda de prioridades atuais do país.

O primeiro-ministro Narendra Modi, que uma vez mais esteve ausente pelos compromissos da sua interminável turné mundial, não prestou atenção a estes trabalhadores. O seu objetivo é aumentar a taxa de crescimento da Índia, que - a julgar pelo exemplo de quando era primeiro-ministro do Estado de Gujarat - se pode conseguir mediante o canibalismo dos direitos dos trabalhadores e das condições de vida dos pobres. A venda de bens do Estado, as concessões enormemente lucrativas para as empresas privadas e a abertura da economia da Índia ao investimento direto estrangeiro são os mecanismos escolhidos para aumentar a taxa de crescimento. Nenhuma destas estratégias, como até o Fundo Monetário Internacional reconhece, contribuirá para a igualdade social. Esta estratégia de crescimento provoca uma maior desigualdade, menos poder para os trabalhadores e mais privações.

Luta de classes

Só quatro por cento da força laboral da Índia está sindicalizada. Se estes sindicatos apenas lutassem para defender os seus débeis direitos, o seu poder diminuiria ainda mais. O poder sindical sofreu muito desde que a economia da Índia se liberalizou em 1991, com as sentenças do Supremo Tribunal contra a democracia sindical e com a cadeia de produção mundial lançando os trabalhadores indianos contra os trabalhadores de outros lugares. O grande mérito dos sindicatos indianos é que têm feito suas - em diferentes alturas - as condições de trabalho e de vida dos trabalhadores e dos camponeses no setor informal. O que resta de poder sindical só poderá aumentar fazendo o que estão a fazer. Isto é, virar-se para a imensa massa dos trabalhadores e camponeses informais e atraí-los para a cultura dos sindicatos e da luta de classes.


Artigo de Vijay Prashad, professor hindu de relações internacionais, publicado em português pelo esquerda.net, com tradução de de Carlos Santos

Pesquisa e seleção de Marko Ajdaric

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