Para fechar o mês março, marcado pelas comemorações do Dia Internacional da Mulher, vamos tratar de um tema bastante debatido entre as mulheres: “O Feminismo”. Mas, o que significa mesmo esta palavra?
Por Valéria Possadagua, dirigente da FETIM
É assustadora a quantidade de mulheres e homens que não sabem o que é feminismo. Ninguém tem a obrigação de saber, é claro, mas a partir do momento em que você decide opinar sobre um assunto, é de bom tom saber do que se trata. As pessoas são "contra" o feminismo sem sequer saber o que significa.
Para um homem, articular o discurso feminista é razoavelmente fácil, difícil é agir de acordo.
Talvez uma das maiores contribuições dos homens para o feminismo seja simplesmente se posicionar no mundo de forma feminista.
O machismo, por definição, é antimulher mas o feminismo não é, nunca foi, nunca será antihomem. O inimigo do feminismo não é você, homem de carne e osso lendo esse texto, mas a estrutura machista da nossa sociedade.
Portanto, vamos abordar este tema pela ótica de um homem, que se engaja nesta luta a partir de suas experiências vividas dentro do movimento sindical e político.
Sérgio Miranda, dirigente sindical da Ford Camaçari concedeu uma entrevista para a Secretaria de mulher da FETIM BA, com objetivo de nos ajudar a conquistar outros companheiros para esta luta, a luta pelo fim de toda forma e exploração e violência contra mulher.
ENTREVISTA COM SÉRGIO MIRANDA
FETIM: Dentro desta estrutura que oprime e viola os direitos humanos das mulheres e a coisifica, como você faz a leitura sobre o homem que se posiciona em favor da liberdade e do direito das mulheres?
SÉRGIO: É obrigação do homem defender este direito. Todo homem tem vínculos com mulheres. Sejam mães, esposas, irmãs e filhas. Defender o direitos das mulheres é defender pessoas que amamos.
FETIM: O machismo mata?
SÉRGIO: O machismo mata. Mata a mulher de forma cruel, mata os familiares e mata também o próprio homem que o pratica. O machismo é um câncer que precisa ser extirpado da sociedade o quanto antes. Tenha empatia pela dor do outro especialmente se for uma dor que você nunca experimentou e, teoricamente, nunca experimentará.
FETIM: O estupro... nestes casos você é a favor ou contra o aborto?
SÉRGIO: A questão do aborto requer uma série de analises. Julga-se a mulher que o pratica, mais não enxerga a dor pela qual ela passou. É verdade que existem casos de mulheres que tiveram filhos resultados de estupro e conseguiram superar. Mais cada pessoa enfrenta a situação de uma forma. Acredito, que isto deva ser uma decisão da mulher que sofreu a violência. Não devemos obrigar nem o aborto e nem a gestação.
FETIM: Para você a diferença salarial entre homens e mulheres é discriminatória?
SÉRGIO: A partir do momento que uma mulher exerce a mesma atividade, não existem razões lógicas que justifique a diferença salarial. Isso comprovadamente é discriminatório e vergonhoso. Não podemos aceitar isso no ambiente de trabalho.
FETIM: Quem te inspirou, ou inspira nesta luta, sabemos que as estruturas sindicais ainda são muito machistas e romper com esta lógica não é nada fácil, ainda mais por ser uma categoria majoritariamente masculinizada. As mulheres dirigentes sindicais encontram apoio para realizarem a luta pelo fim do machismo?
SÉRGIO: A minha inspiração surgiu quando comecei a participar do movimento sindical e comunista, onde se discutem e se elaboram as políticas para as mulheres. Os temas debatidos me chamaram a atenção, me fazendo estudar e analisar melhor o assunto. Percebi então que existe uma necessidade de uma participação mais efetiva do público masculino neste assunto. O machismo é um mal que existe em todos os segmentos da sociedade. Existem machistas em todos os meios. Não posso falar por outros Sindicatos que não conheço, e que deve ter pessoas machistas, mais no que faço parte não vejo uma estrutura que apoie o machismo. Pelo contrário. Vejo que as mulheres diretoras recebem apoio para realização de atividades envolvendo temas complexos como violência doméstica e outras.
FETIM: Não se muda o mundo respeitando a opinião de quem te oprime.
SÉRGIO: A mudança tem como princípio básico um conceito novo. Não se pode mudar usando conceitos antigos. Respeitar a opressão é manter o conceito vivo e a mudança morta. Se quisermos avançar precisamos enfrentar o opressor. Eliminar seus conceitos atrasados e fora do racional. Não vejo outro caminho para mudança que não seja o enfrentamento
FETIM: O que levou você a fazer uma tatuagem tão simbólica?
SÉRGIO: Apenas uma forma de mostrar para todos e (as) que apoiar a causa feminista não é motivo de vergonha, de medo, ou de perda de identidade masculina. Muito pelo contrário. Apoiar o feminismo é saber defender um ideal justo que busca a igualdade entre homens e mulheres.
FETIM: Um Sonho...
SÉRGIO: Meu sonho se resume na letra da música Imagine de John Lennon. Imaginar uma sociedade igualitária onde as fronteiras sejam derrubadas. Onde todos possam viver de uma forma fraterna em cooperação mutua.
FETIM: Deixe uma mensagem para os homens e para as mulheres que lutam por igualdade de oportunidade numa sociedade machista, racista e preconceituosa.
SÉRGIO: Minha mensagem é que viver em uma sociedade igualitária é comprovadamente o melhor meio para todos. Qualquer tipo de preconceito deve ser erradicado se quisermos viver em paz. Na questão específica ao feminismo eu ressalto a importância da luta e peço apoio dos homens de uma forma mais ativa neste movimento. Volto a afirmar. Todo homem tem ou teve ao menos uma mulher de muita importância em sua vida. Não existe um homem sem uma mulher.
*Definição Feminismo: Feminismo é um movimento político, filosófico e social que defende a igualdade de direitos entre mulheres e homens.