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Produção de automóveis dos EUA se aproxima de nível recorde

Geral, 06 de Abril de 2015 às 16:41h

A produção de automóveis dos Estados Unidos está se aproximando de um nível recorde, sustentada por uma forte demanda doméstica e pelo contínuo aumento das exportações. Mas os carros e caminhonetes produzidos no país contêm cada vez mais peças importadas do México, China e outros países.

Os EUA importaram um recorde de US$ 138 bilhões em autopeças no ano passado, o equivalente a US$ 12.135 de conteúdo em cada veículo leve produzido no país. O número se compara aos US$ 89 bilhões, ou US$ 10.536 por veículo, registrados em 2008 — o primeiro de dois anos terríveis para o setor automobilístico. Em 1990, foram importadas apenas US$ 31,7 bilhões em autopeças.

A tendência lança dúvidas sobre o celebrado retorno de uma das indústrias fundamentais dos EUA. À medida que as importações de autopeças se aceleram, os salários básicos do setor estão caindo.

Na fábrica de peças  American Axle & Manufacturing Holdings Inc.,  AXL +0.70%     em Three Rivers, no Estado de Michigan, alguns operários novos recebem cerca de US$ 10 por hora, o equivalente ao que o  Wal-Mart [sim, a dona do BomPreço] paga.

John Childers, que tem 38 anos e trabalha como estoquista de linha de montagem, diz que está agradecido pelo emprego, mas acha difícil sobreviver com o dinheiro que ele e sua noiva ganham na mesma fábrica. 'Somos da classe baixa', diz. 'Vamos ser honestos'.

O México foi de longe o maior fornecedor de autopeças para os EUA em 2014, respondendo por 34% das importações, seguido pela China, com 13%. As importações da China mais que dobraram desde 2008. As compras do México subiram 86%.

O Ford Escape, por exemplo, tem 55% de conteúdo americano e canadense no modelo 2015, ante 90% em seus modelos 2010, segundo dados do governo dos EUA. O conteúdo local dos Honda Accord recuou de 75% para 70%.

'Nunca produzimos tantos carros nos EUA, mas também nunca produzimos tão poucas peças', diz Sean McAlinden, economista-chefe do Centro de Pesquisa Automotiva.

As montadoras produziram 11.370.000 veículos leves nos EUA em 2014, um dos volumes mais elevados desde o recorde de 12.590.000 registrado em 1999, de acordo com a WardsAuto.com, que faz análises do setor.

Em 2014, as exportações de veículos produzidos nos EUA atingiram 2.000.000 unidades pela primeira vez, segundo dados de comércio dos EUA. O crescimento da importação de peças, entretanto, deixou os EUA com um déficit crescente no comércio total de carros e peças — US$ 168,3 bilhões no ano passado ante US$ 156,2 bilhões em 2013.

A migração da produção de autopeças para outros países encolheu um setor que por muito tempo foi uma das maiores fontes de emprego da indústria americana. Em 2014, as fábricas de peças automotivas empregavam em média 537.000 pessoas, número 36% menor que em 2000. Nas montadoras de veículos, o emprego caiu 32% no mesmo período, apesar do recente crescimento na produção. A queda foi provocada, em parte, por melhoras de produtividade, inclusive através da automação.

Impulsionados pelo enfraquecimento de suas moedas e diferentes fatores, outros países estão abocanhando uma fatia maior do setor de autopeças, incluindo a produção de componentes pequenos e baratos que podem ser transportados facilmente. Entre os produtos mais sujeitos a importações estão conexões elétricas, airbags e injetores de combustível. Transmissões, motores e assentos tendem a ser produzidos nos EUA.

Para sobreviver em um mercado cada vez mais global, os maiores fabricantes de autopeças dos EUA estão construindo fábricas no exterior. A American Axle, por exemplo, tem unidades no México, Brasil, Reino Unido, Polônia, Índia, China e Tailândia. Apenas 30% dos 12.820 empregados da empresa trabalham nos EUA.

Operários americanos de empresas de autopeças recebem salários muito menores que os das montadoras, embora os salários estejam em queda nos dois setores. Em 2014, o salário médio de trabalhadores da produção e outras funções não gerenciais em fabricantes de autopeças era de US$ 19,91 por hora, 23% menor que dez anos atrás, a valores ajustados pela inflação. No mesmo período, os salários nas montadoras caíram 22%, para uma média de US$ 27,83 por hora, segundo a Agência de Estatísticas do Trabalho dos EUA.

Kevin Hobbs, presidente da filial de Three Rivers do sindicato United Auto Workers, que representa os operários da fábrica da American Axle, onde o salário começa em US$ 10 por hora, diz que seus membros lutam para pagar despesas básicas. Um consolo são os excelentes benefícios de assistência médica oferecidos pela firma.

O Wal-Mart Stores Inc. recentemente anunciou planos de elevar o salário básico de operários americanos para pelo menos US$ 10 por hora no próximo ano. Com os salários do varejo subindo, diz Hobbs, 'vai ser difícil atrair pessoas para a indústria'.

Um porta-voz da American Axle diz que os benefícios da empresa são melhores que os das demais companhias da região.

Childers e sua noiva, Chrystal Varty, trabalham no turno noturno da fábrica. Há dois anos no emprego, ele ganha US$ 11,50 por hora para manter a linha de produção estocada com peças. Já ela está há um ano no emprego e ganha US$ 11 para operar uma empilhadeira.

Juntando horas-extras, bônus e participação nos lucros, eles conseguem atingir uma renda anual conjunta de US$ 55.000. É difícil para eles sustentar cinco filhos de casamentos anteriores, principalmente porque grande parte do dinheiro vai para os pagamentos e reparos de sua casa de três quartos, onde partes do assoalho estão apodrecendo.

Os EUA são o segundo maior destino das autopeças fabricadas no Brasil, segundo dados consolidados do Sindicato Nacional da Indústria de Componentes para Veículos Automotores (Sindipeças). O relatório Desempenho do Setor de Autopeças informa que o Brasil exportou US$ 1,3 bilhão em autopeças para os EUA em 2013, o que representou 12,8% das exportações brasileiras no setor. Esse valor foi 3,9% inferior aos US$ 1,5 bilhão exportado para os EUA em 2012, quando a participação do país nas exportações brasileiras foi de 13,9%. Os EUA ficam atrás apenas da Argentina, que comprou US$ 3,7 bilhões em autopeças do Brasil em 2013, uma fatia de 37,6% das exportações brasileiras.

Adaptamos de Wall Street Journal
Contribuição de Marko Ajdaric

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