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Centrais condenam clima de "terceiro turno"

Geral, 11 de Março de 2015 às 14:18h

Na noite desta terça-feira (10), o Centro de Estudos da Mídia Alternativa Barão de Itararé e a Agência Sindical promoveram uma entrevista coletiva com líderes sindicais para debater a pauta e a agenda dos trabalhadores neste momento de agitação política brasileira. A atividade teve a presença do presidente da CTB, Adilson Araújo, além de Vagner Freitas (presidente da CUT), João Juruna (presidente da Força Sindical), Caninde Pegado (secretário geral da UGT), Luiz Gonçalves (presidente da NCST-SP) e Edson Carneiro Índio (secretario geral da Intersindical).



A conversa foi dominada pelas repercussões do panelaço ocorrido durante o fim de semana nas regiões nobres das metrópoles brasileiras - algo que a oposição diz se tratar de um movimento espontâneo dos descontentes com o resultado das eleições. Adilson Araújo avalia a situação com preocupação: “Estamos vivendo um período de evidente terceiro turno, em que as dificuldades econômicas brasileiras se juntam à ofensiva conservadora para tirar os trabalhadores do governo. O avanço dos representantes das forcas conservadoras no Congresso cria novas dificuldades na governabilidade, fazendo com que a pauta empresarial avance com muito mais celeridade que a trabalhista”. O sindicalista exemplificou sua avaliação ao fazer uma comparação, desde a última Conclat (Conferência Nacional da Classe Trabalhadora), das vitórias conquistas pelo empresariado e pelos trabalhadores: enquanto o primeiro grupo foi beneficiado por massivas isenções fiscais e desonerações, o segundo viu suas pautas atolarem em um Congresso dominado pelo poder econômico.

Juruna de um ênfase à necessidade de retomar a briga pelos compromissos assumidos durante a campanha eleitoral. “Não podemos ficar presos na pauta de curto prazo, entendemos que isso vai se estender por todo o governo Dilma. A questão econômica passa por um momento difícil, porque as promessas feitas durante a campanha deram um cavalo de pau em pleno final de ano. Nós ficamos perplexos com a escolha do Levy, ninguém esperava”, disse. Índio disse estar mais preocupado com o que vem acontecendo na Câmara dos Deputados: “[O presidente da Câmara, Eduardo] Cunha quer reviver o Projeto de Lei 4.330/04 [que versa sobre terceirização de atividades-fim], e esse é um projeto que vai causar o rebaixamento das condições de vida da população, aumento da concentração de renda. Vai contra os interesses do nosso povo”, declarou, e complementou seu pensamento: “O governo erra ao tomar certas atitudes que ajudam a confundir o povo e levar adiante o projeto do golpismo: essa elevação de juros de 1,75% em dois meses, por exemplo, aumentou o tamanho da dívida pública em mais de R$ 20 bilhões - é tudo o que será economizado pelos cortes das MPs 664 e 665!”.

Limites para a cooperação

A pergunta que tomou o maior tempo dos convidados, já na rodada aberta aos jornalistas, foi: “Como conciliar as concessões à direita com as pautas trabalhistas?”. O entendimento agridoce da situação é que haverá algum grau de retrocesso, inevitavelmente, já que a representação dos trabalhadores e dos movimentos sociais foi reduzida nessas eleições.

“O limite da nossa cooperação com o governo Dilma é a possibilidade de a gente implementar a proposta que foi vencedora nas eleições, que é a do desenvolvimento nacional. A gente entende que este é um governo de coalizão que tem forças conservadoras na base, mas o modo de enfrentar isso é colocar a nossa pauta na rua para impedir que eles dominem a discussão”, respondeu Vagner Freitas. Sobre o panelaço, foi mais agressivo: “Esses que estão defendendo a onda conservadora não estão preocupado com os direitos do povo, nem com o combate à corrupção, nem com o desenvolvimento - é golpismo, é terceiro turno, puro e simples”.

Juruna vê o posicionamento do governo com menos apreço: “É preciso ter um questionamento do que aconteceu no dia 28 de dezembro, porque o governo mostrou sua face conservadora [ao escolher Joaquim Levy para o Ministério da Fazenda e editar as MPs 664 e 665]. As MPs não começaram no PSDB, começaram no próprio governo. É preciso questionar essas decisões, porque elas são parte do projeto que perdeu, e se for necessário taxar o trabalhador, que taxe também as grandes fortunas e as empresas. O pior ainda está por vir, o povo vai ficar contra o governo na hora que a inflação e o desemprego começarem a chegar”.

O presidente da CTB fez uma avaliação realista do momento. Ele acredita que a direita se fortaleceu no último período eleitoral e está agora colocando os movimentos progressistas na defensiva. Segundo Araújo, o momento exige que o conjunto das entidades sindicais abandonem a visão estritamente economicista da luta política e busquem estratégias para fortalecer a esquerda, tanto no Executivo quanto no Legislativo. “O fato é que qualquer pauta que os movimentos progressistas tentem colocar hoje no Congresso será literalmente derrotada. Vocês acham que há alguma condição, como esta o campo político hoje, de taxarmos grandes fortunas, de levar adiante a reforma política? Na minha visão muito particular, não há. Eu acho que um pouco desse avanço da direita é fruto da nossa própria apatia, que deu espaço para que as forças conservadoras avançassem sobre o governo. As forças que advogam o fim do Estado mínimo e a valorização do trabalho do salário mínimo foram derrotadas nas eleições, então eu penso que o momento é de colocarmos a nossa pauta de forma clara, em oposição a estes que foram eleitos. Não podemos, depois de 12 anos de ganhos reais na pauta trabalhista, deixar que tudo isso se vá pelo ralo”, concluiu.

Por Renato Bazan - Portal CTB

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