Polônia: No dia 17 de janeiro, as manifestações contra o encerramento de 4 minas de carvão na regiãp da Silésia e as consequentes demissões terminaram com a vitória dos trabalhadores que conseguiram impor ao governo uma viragem de 180º. Entrevista com Boguslaw Zietek, presidente do sindicato livre Agosto-80.
Confira, abaixo, entrevista publicada pelo Esquerda.Net, na norma do português de Portugal:
Depois de dez dias de greve e mobilização popular na região industrial da Silésia, o governo da coligação PO-PSL de Ewa Kpacz1 deu o braço a torcer. Qual foi a origem desta luta?
Boguslaw Zietek: Em meados de dezembro, o novo governo prometeu consultar os sindicatos mineiros sobre o seu programa de resgate para as minas, mas a 7 de janeiro Ewa Kopacz, a presidente, anunciou o encerramento de 4 delas com os despedimentos que isso implicava. Nesse mesmo dia, os trabalhadores dessas 4 minas declararam-se em greve. Os mineiros que se encontravam no fundo da mina não vieram à superfície para concluir o seu trabalho e ocuparam as galerias. Em 24 horas as 4 minas estavam paralisadas.
Há já dois anos que na Silésia criámos um Comité de greve em que participam os principais sindicatos - Solidarnosc, OPZZ, FZZ e Agosto-80. Nessa altura, este Comité organizou com sucesso uma greve geral de aviso. Desde então, esta coordenação tem estado calada mas não foi dissolvida. Daí que agora tomasse rapidamente a iniciativa de coordenar o movimento e exigisse uma reunião com o governo. Ao mesmo tempo, outras minas começaram a desenvolver iniciativas de solidariedade: os mineiros continuaram a trabalhar, mas depois do trabalho ficavam nas galerias das minas dispostos a ocupá-las, caso fosse necessário.
Como explicas que o governo tenha decidido adotar uma medida tão provocatória?
Em primeiro lugar, porque depois de lançar uma campanha de propaganda a falar dos "incríveis benefícios" dos mineiros, esperava que estes ficassem isolados na sua luta. Em segundo lugar, o governo apostava na divisão entre os sindicatos e entre os trabalhadores: só propunha o encerramento de 4 minas e pensava que o resto não sairia em sua defesa dado que, nesse caso, ameaçava que seria toda a companhia mineira (KW), isto é 14 minas, que teriam que fechar. Ou seja, ameaçava destruir 47.000 postos de trabalho. Ninguém aceitou esse discurso. Em terceiro lugar, porque ninguém no governo previu semelhante resistência social. Não foram só os mineiros que se mobilizaram contra o governo, mas toda a sociedade. Uma semana depois de se iniciar a mobilização, as sondagens indicavam que 68,5% da população em todo o país apoiava os mineiros e só 15% considerava que o governo tinha razão.
Por conseguinte, tratava-se de uma verdadeira mobilização contra o governo...
Porque tínhamos preservado o comité de greve! Não demorámos a organizar ações de apoio aos grevistas. E, o que foi melhor, as pessoas também se mobilizaram espontaneamente organizando cortes de estrada, manifestações e marchas de protesto. Em cada iniciativa havia centenas e até milhares de participantes; em geral familiares, mas também outras pessoas. Floresceram tendas de campanha em redor das minas. Não passava um dia que não se desenvolvesse uma ação. A maior manifestação teve lugar em Byton: cerca de 12.000 manifestantes, quando nessa localidade não há mais que 2.000 mineiros. O sindicato das enfermeiras e parteiras (OZZPiP) da região da Silésia também se juntou ao movimento, participando nas concentrações e manifestações unitárias.
Desde o início, o Comité de Greve organizou reuniões com os presidentes das câmaras em que se combinou o apoio mútuo. É preciso assinalar que a presidente da câmara de Ruda-Slaska, onde iam fechar a mina "Pokoj", é uma independente que foi eleita com o apoio dos sindicatos de mineiros, entre os quais o "Agosto 80". Em Gliwice, o presidente da câmara independente já se tinha comprometido noutras ocasiões a apoiar a mina mediante o financiamento do estudo de um plano alternativo. Houve rumores de que o governo tinha escolhido essas minas para castigar as pessoas que tinham optado por eleger presidentes de câmara independentes... Mas também nos locais que têm presidentes da câmara da PO foram aprovadas resoluções contra o governo.
Que efeitos vai ter a vossa vitória?
As pessoas compreenderam que lutando se pode ganhar. No princípio parecia que, tal como no tempo de M Thatcher, o governo ia derrotar os mineiros, mas no final foi o governo que teve que capitular, comprometendo milhares de milhões de Zlotys para uma verdadeira reestruturação do setor. Esta experiência permite que outros sectores comecem a levantar a cabeça e a repensar as suas reivindicações. Mudou o ambiente. Antes as pessoas diziam que "a luta não serve para nada, acabamos sempre a perder" e agora dizem que vale a pena lutar, que a vitória é possível. Também assistimos a um debilitamento do governo e à divisão no seu campo, bem como à rejeição dos partidos, porque todos se colocaram à margem do movimento.
Entrevista com Boguslaw Zietek, presidente do sindicato livre "Agosto-80" e membro do Comité Intersindical da Greve, por Jan Malewski. Publicado no semanário "L'anticapitaliste" do NPA de França, tradução para espanhol de vientosur.info e para português por Carlos Santos para esquerda.net
1 PO (Plataforma Cívica), partido da atual presidente e o PSL é o Partido Camponês.
Colaboração de Marko Ajdaric