“O sonho que sonha só é só um sonho, um sonho que se sonha junto é realidade”. Com esta mensagem de otimismo e ao ritmo de muito maracatu, a Contag (Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura) deu início na tarde desta segunda-feira (10) ao 4º Encontro Nacional de Formação (4º Enafor), no Centro de Treinamento da CNTI, em Luziânia (GO), com o tema “Formação de base para quê?”
A praça do diálogo, nome que recebeu o espaço para a recepção das autoridades e palestrantes, foi tomada pela emoção do reencontro. “Só quem vive, sente; só quem vivencia, compreende; só quem pisa nessa praça, jamais esquece. Aqui não só se ensina; aqui também se aprende”, foi a mensagem de abertura que, embala pelo som de “O que é, o que é?”, de Gonzaguinha, promoveu um grande momento de congraçamento entre os participantes.
E na “praça” que deu início ao evento estiveram presentes o presidente da Contag, Alberto Broch; o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto; a secretária de Juventude da Contag, Maria José; o secretário de Formação e Organização da Contag, Juraci Souto; o presidente da CTB, Adilson Araújo; e a vice-presidente da CUT, Carmem Foro. A secretária de Formação e Cultura da CTB, Celina Arêas, também acompanhou o evento.
Para o presidente da CTB, o tema do 4º Enafor está em total sintonia com o ambiente político nacional e com as mudanças políticas do mundo. “Sabemos o quanto é importante o curso de uma mudança política”, ressaltou, já que depois de doze anos do início do governo democrático “chegou a hora de pensar no próximo passo”. Para Adilson Araújo, o Brasil precisa caminhar para uma revolução política, social e econômica. “A mudança é possível. Podemos ganhar as ruas e promover as necessárias reformas estruturantes, como a política e a da comunicação”, ressaltou. O presidente da CTB destacou a importância da vitória de Dilma Rousseff nas eleições de outubro. “O movimento social e o movimento sindical foram extremamente importantes, pois garantiram a vitória da Dilma. Agora precisam fazer a revolução do nosso tempo, da dignidade, da moralidade, com todos aqueles que acreditam no sonho possível”, frisou.
O presidente da Contag, Albert Broch, destacou a importância do 4º Enafor para a política formativa. “Aqui estabeleceremos diretrizes para que através da formação política popular possamos conceber um mundo mais humano, em que se possam compartilhar valores, que se possa caminhar pela valorização do homem, do espaço rural, do desenvolvimento, do desenvolvimento da agricultura familiar, e pela valorização das grandes transformações”, disse.
O ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rossetto, também falou da importante vitória de Dilma Rousseff para a continuidade e a melhoria das políticas agrárias. “Minha presença aqui é para reafirmar compromissos”, ressaltou. “Vocês encontram na Contag um povo alegre, um povo vitorioso que vem construindo o Brasil que quer”, frisou, ao lembrar da história de resistência e luta que a Contag passou ao longo dos 50 anos de existência. “Nos últimos 12 anos, três milhões de trabalhadores sem terra começaram a ter terra. E queremos mais, porque a reforma agrária é uma política que traz justiça, liberdade e renda”, disse.
Para Rossetto, o que está se fazendo atualmente é uma grande revolução para além das questões agrárias e agrícolas. “Queremos lutar por mais qualidade de vida para todos os distritos em nosso país”, reforçou, ao falar da grande conquista do povo com o Minha Casa, Minha Vida Rural. “Nós só começamos e já estamos fazendo 160 mil casas. Em quatro anos serão pelo menos 400 mil novas casas, que começarão a ser construídas a partir de 2015”, comemorou. “Queremos avançar e melhorar a vida dos homens e mulheres que estão em todo território nacional, produzindo e desenvolvendo suas comunidades”, finalizou.
O 4º Enafor será realizado até sexta-feira (14) com a presença de aproximadamente mil pessoas, entre trabalhadores e trabalhadoras rurais, lideranças de base, dirigentes e assessores sindicais e outros convidados. O encontro pretende ser um espaço de troca de saberes e fazeres formativos, envolvendo experiências de base comunitária, além de contar com oficinas temáticas e pedagógicas, rodas de conversa, feira de troca e venda de produtos característicos da agricultura familiar, lançamentos de publicações, de filme e da Marcha das Margaridas.
Gilberto Carvalho alerta para retomada de formação de base
A 1ª Conferência do 4º Enafor foi sobre o tema “O Brasil que sai das urnas e os desafios para a formação da base”, com a participação ministro da Secretaria-Geral da Presidência da República, Gilberto Carvalho, que não poupou esforços para que todos pudessem fazer uma profunda reflexão quanto ao papel de cada um, especialmente dos movimentos sindicais e sociais, sobre o cenário político recentemente vivido com a vitória acirrada da presidenta Dilma Rousseff. “Estamos saindo de um processo eleitoral dificílimo. Mais uma vez o povo nos deu a oportunidade, mas temos que tomar algumas providências e, se não fizermos mudanças profundas na construção desse projeto, talvez o povo não nos dê uma nova chance”, alertou. Segundo Carvalho, as mudanças são necessárias, pois o resultado apertado não condiz com a qualidade do governo. “Por que essa fragilidade? Por que um governo que fez mudanças profundas perdeu apoio do povo? Onde erramos para que isso tenha ocorrido?”, indagou. “Vocês são movimentos sociais, mas vocês fazem parte do projeto”, lembrou.
Para Carvalho, existem vários motivos para o que aconteceu, e um deles é a corrupção, que, conforme destacou, também foi detectado em outros governos. Outro problema segundo ele foi o da comunicação. “Não soubemos nos comunicar com o povo”, acredita. Para Carvalho, a liberdade de imprensa é fundamental, o problema é a ideologização e a pregação o ódio.
“Outro problema que contribuiu para essa questão foi o nosso afastamento das lutas, o nosso afastamento de nossas bases e a burocratização que fomos sofrendo nos últimos anos”, admitiu. Segundo ele, a esquerda, que nasceu com vocação para contestar a burocracia autoritária, que nasceu como movimento alternativo em relação à cultura dominante, começou a absorver a cultura que combatia. “O aparelhamento e as guerras internas do poder foram crescendo e nos afastando da base. Isso aconteceu dentro dos nossos partidos, dentro das nossas organizações e particularmente aconteceu dentro do governo”, avaliou.
Para Carvalho, o 4º Enafor, com um tema tão profundo e atual, será fundamental para a resolução desses problemas, já que, segundo destacou, “quando você não ocupa o espaço, o outro lado ocupa”. O desafio, segundo o ministro, é fazer com que o governo dialogue mais. “Surgiu um novo tipo de militância, a militância de direita, conservadora, que trabalha os valores opostos aos nossos projetos, destacando a competição e o egoísmo”, frisou. Devido a isso, Carvalho acredita que os movimentos sociais devem abandonar a pequenez das disputadas internas e “fazer o que vocês estão fazendo, que é a formação de base, a formação técnica, para que tenham arma intelectual para fazer esse combate que tenta dividir o país”.
Carvalho elogiou a Contag pela coragem de ter esta iniciativa, de cuidar da qualificação dos quadros e da formação de base. “Estou gratificado e isso me devolve a esperança que temos no futuro de nossas organizações. Vejo aqui esse esforço concretizado”, finalizou.
Ludmila Machado - Portal CTB